Excesso de neurônio é tão ruim como falta, diz pesquisa da
UFRJ
Indivíduo não nasceria se cérebro fosse grande demais
Sinapses
(azul) envolvem neurônio: alguns deles precisam morrer Foto: Latinstock
Ter
neurônios demais não é necessariamente uma boa notícia. Embora se costume
associar a morte de células a doenças, este processo é fundamental para o
desenvolvimento de um ser vivo. Mas, embora o funcionamento da enzima caspase —
responsável por esta degeneração — fosse conhecido, ninguém sabia por que ela
cumpria este papel. O mistério foi desvendado pelo Instituto de Ciências
Biomédicas da UFRJ. Em seu novo estudo, publicado pelo “Journal of
Neuroscience”, a equipe do neurocientista Stevens Rehen descobriu que, sem esta
enzima, ocorrem alterações perigosas no cérebro. Até 80% das células deste
órgão ficam com mais ou menos cromossomos do que o esperado.
O
Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias (Lance), comandado por
Rehen, inibiu a atividade da caspase em camundongos. Quando seu funcionamento é
anulado, não há morte celular, um processo que ocorre principalmente durante o
período fetal, mas que se prolonga até a infância.
— Na
formação de vários órgãos do corpo, é preciso matar uma quantidade
significativa de células — ressalta Rehen. — Camadas inteiras do cérebro são
eliminadas. Se a caspase não estiver ativa, este órgão fica enorme, e o animal
não consegue sobreviver mais do que três semanas no útero. Concluímos que no
máximo 30% das células cerebrais podem ter uma quantidade atípica de
cromossomos.
Oscilação
muito maior
A
ultrapassagem desta cota tornaria inviável o ajuste das sinapses, ou seja, a
conexão entre os neurônios. Rehen compara a atividade da enzima caspase à
construção de uma estrada: é preciso ajustá-la para o tamanho dos carros que
passarão por ali. Sem a morte celular, a “bagunça” provocaria a morte do
animal.
Normalmente,
as células de um camundongo têm 40 cromossomos. Há células do roedor com leves
alterações neste número, como 35 ou 45 cromossomos. Sem a caspase, porém, esta
oscilação atinge margens extremas: entre 29 e 51.
—
Desativamos a caspase no animal inteiro, mas as consequências mais dramáticas,
que provocaram a sua morte, são consequências da ausência de morte celular no
cérebro — explica Rehen. — Outros órgãos talvez tolerem isso melhor.
Tecnicamente, podemos reativar o trabalho da enzima, mas este não foi o foco da
nossa pesquisa.
Fonte: ( O
Globo )
Jornalista:
Renato Grandele
Edição:
Maiquel Fleck
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