terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Saúde, o maior valor da VIDA!

... e são tantas as horas da minha ausência...


 Olhava para as mãos... por vezes desviava o olhar... mas voltava a olhar para as mãos... A pele enrugada e palmas macias como se de seda se tratasse. Mãos vividas, mãos que passaram pelas imperfeições da vida... Sentada na velha sala olha o silêncio, brinca distraidamente com as vestes, já gastas pelas horas... Passa os dias sentada entre a escura sala, e a varanda onde diz ver o mundo... olha a horta onde durante anos cultivou, trabalhando de sol a sol... hoje estão cobertos de ervas... as pernas já fracas ainda vão caminhando como as suas memórias... tão frágil, mas com um olhar firme e doce de quem já viu muita coisa... como a pele das suas mãos... Naquele veio-lhe um sorriso aos lábios quando ouviu a minha voz a entrar pela porta... depois de um abraço forte, sentei-me ao seu lado... enquanto as palavras lhe saiam com sabedoria; olhava-lhe para as mãos, sempre a ajeitar a saia, e a acariciar a minha mão... contou-me as histórias daqueles que a foram deixando, histórias de antigamente... senti que lhe fazia bem, rever a sua vida, o tempo dos seus pais... o tempo do meu avô...

 Após uma tarde a sentir a sua energia, e a ouvir todo o seu saber, vim embora, e ela ficou lá, sentada, com uma mão a acariciar a outra...
- "até amanhã, vai com Deus..."
...

Hoje é tudo diferente... vive num eterno compasso de espera, mas sempre agarrada ao amor incondicional que tem pela vida. As palavras são-lhe raras e as pernas já não suportam a passagem do tempo. Hoje os dias tornaram-se iguais... Hoje quando me venho embora, já não oiço: "até amanhã, vai com Deus..." pelo contrário, fica sempre um olhar vazio a pedir para que fique mais um pouco... e são tantas as horas da minha ausência... 
e amanhã é uma incógnita...
















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